18 de agosto de 2021 / Conselho da Comunidade de Curitiba
A violência doméstica e familiar atinge mulheres, crianças e idosos. Com a pandemia e o isolamento social, houve um aumento no registro de casos de agressões ocorridas dentro de casa, na maioria das vezes cometidas por um familiar. A crise econômica, que resultou em uma elevação no índice de desempregados no país, contribui para a violência nas casas dos brasileiros. Para chamar a atenção para o problema, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e o Tribunal de Justiça do Paraná (TJ) estão promovendo mais uma edição da Semana Nacional de Justiça pela Paz em Casa. O Conselho da Comunidade da Comarca da Região Metropolitana de Curitiba – Órgão da Execução Penal está apoiando a iniciativa, que acontece três vezes por ano. Uma série de palestras virtuais foram programadas para tratar da violência doméstica e familiar.
Em entrevista ao site do Conselho da Comunidade da RMC, a psicóloga Ana Claudia Wanderbroocke, doutora em Psicologia e professora do Programa de Pós-graduação em Psicologia da UTP, fala das causas das agressões a idosos. ” “Numa sociedade voltada para a produção e consumo a pessoa idosa pode ser vista como um peso ou ônus, uma vez que já não contribui com a força de trabalho“, afirma Ana Claudia, que também faz parte do Conselho fiscal do Conselho da Comunidade da RMC.
Na conversa, a psicóloga também fala do reflexo da pandemia de Covid no aumento da violência aos mais velhos. A seguir a entrevista na íntegra. Boa leitura!
Em 2020, o Brasil tinha 29,9 milhões de pessoas acima dos 60 anos. O Estado brasileiro está sabendo lidar com o envelhecimento da população?
Acredito que o tema tem sido um pouco mais debatido e houve conquistas nesse campo, mas ainda falta um bom caminho a ser percorrido para que o brasileiro que chega à velhice tenha seus direitos plenamente garantidos.
Quando se fala em violência contra idosos, o que vem à mente normalmente são casos de agressões físicas. Quais são os tipos de violências cometidas contra os idosos?
De acordo com a OMS, além da violência física, a tipologia envolve as seguintes: a psicológica, a sexual, o abandono, a negligência, a financeira/econômica ou patrimonial e o autoabandono ou autonegligência.
O que leva uma pessoa a agredir um idoso, muitas vezes com a saúde debilitada? É possível traçar um perfil dos agressores?
São muitos os fatores e todos estão interligados. Numa sociedade voltada para a produção e consumo a pessoa idosa pode ser vista como um peso ou ônus, uma vez que já não contribui com a força de trabalho. Também se costuma valorizar muito mais a beleza associada à juventude do que a beleza da velhice. Então tudo que é associado a esta etapa da vida costuma não ser bem visto ou aceito. Nas famílias, da mesma forma, além desses preconceitos serem reproduzidos, a pessoa idosa pode ser vista como um empecilho para a realização dos planos ou ideais dos mais jovens, principalmente quando precisam ser cuidados. Quando não se estabeleceu uma relação consistente de afeto entre os familiares ao longo da vida, os velhos podem ser “coisificados” e assim, tratados com desprezo, insultados, extorquidos e até agredidos fisicamente. Isso em casos mais graves, mas o idadismo, ou o preconceito etário faz com que pequenas violências ocorram, de forma mais sutil, como quando se tira a autonomia de um idoso que ainda pode decidir por si próprio. Portanto, hoje se sabe que as principais agressões ocorrem dentro de casa, geralmente por filhos. Situações de dependência financeira, presença de abuso de substâncias entre os familiares e transtornos mentais são indicadores de maior vulnerabilidade à ocorrência de violência contra idosos.
A pandemia de Covid agravou essa situação?
Sim, pois o isolamento aumenta o risco de qualquer tipo de violência e, além disso, colocou muitas famílias em condições de maior vulnerabilidade econômica e dessa forma a pessoa idosa também fica mais vulnerável, tanto por depender financeiramente ou por ser o esteio financeiro da família.
Há uma subnotificação dos casos. Por quê?
Certamente há, porque ao mesmo tempo em que é vítima de violência pode haver o receio de perder a fonte de cuidado ou até de o idoso se responsabilizar pela agressão sofrida como se a atitude do familiar agressor fosse sua culpa ou fruto da educação dada. Além disso, a vergonha de expor uma disfuncionalidade familiar também pode leva-lo a se calar. Fora os casos em que devido a maior debilidade ou processo demencial, o idoso não tem condições de denunciar, depende do olhar de uma terceira pessoa.
Quais os caminhos para denunciar casos de violência contra idosos?
Prestando queixa em qualquer delegacia de polícia, delegacias especializadas, disque idoso. Acionar qualquer profissional da rede de proteção social como Unidades de Saúde, CRAS, etc. Considero importante que as pessoas que trabalham com o público idoso estejam atentas aos possíveis sinais de violência como: mudanças de comportamento, de humor, sinais ou manchas na pele, na apresentação das roupas, etc. Em caso de suspeita tentar averiguar com a pessoa idosa, buscando saber como ela tem passado, se tem se sentido bem, se está satisfeita com a sua vida e se possível, visita-la em casa. Caso a suspeita se confirme uma denúncia anônima aos órgãos competentes pode ser realizada para que profissionais façam a avaliação e condução posterior do caso.